Memória
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.
Carlos Drummond de Andrade

“Fome”, que nesta tradução ganha a qualidade do texto de Carlos Drummond de Andrade, descreve de forma tragicômica as agruras de um escritor miserável e vagabundo, que vaga pelas ruas da antiga Cristiania (hoje Oslo, capital da Noruega) com as roupas em farrapos, famélico, levando um toco de lápis com o qual escreve artigos para jornais, dependendo do pagamento para comer e continuar vivo. Enquanto isso, reflete sobre o sentido da vida.
De forma angustiante, empolgante, você vai conhecer um homem pálido, jovem, criativo e com um vazio que o consome: a fome. Ele caminha pelas ruas quase desfalecendo, com o cérebro em brasas, buscando inutilmente ideias para os artigos que raras vezes saem do papel.
Os dias perdem cor e passam depressa enquanto a fome aumenta. Sem concentração, sem inspiração para escrever, o personagem divaga enquanto contempla o mundo e busca as razões para viver, sonhar e resistir. “Se brotasse ao menos uma ideia, uma simples ideia, que me pegasse à força, me metesse as palavras na boca!”.
Na loucura, em meio ao desespero, pede um osso ao açougueiro, rói e procura feito um cão faminto pelos pedaços de carne. A consciência retorna e ele vomita, o odor de sangue seco é forte.
“Aquilo não tinha gosto; o cheiro nauseante de sangue velho subia do osso, dando vontade de vomitar. Fiz nova tentativa. Ah, se pudesse guardar um pedacinho de carne, certamente faria efeito; a questão era conseguir que ele ficasse lá dentro. Mas outra vez a náusea me invadia”.
Os conflitos do personagem ocorrem em situações que vão da lucidez à insanidade. Figura cômica, desprotegida, é fácil imaginá-lo nas condições mais tristes e deprimentes que parecem, muitas vezes, sem saída. Os críticos literários consideram Hamsun o criador do fluxo da consciência, ou seja, o pensamento do personagem é narrado de forma direta, sem cortes.
“Fome” é considerado o melhor livro deste autor muito conhecido no Brasil nos anos 40, quando aqui foram lançados títulos como “Um vagabundo toca em surdina”, “Pan”, “Frutos da terra” e “Vitória”, entre outros. Controvertido, excêntrico, polêmico, comovente, avassalador e monumental em sua obra cheia de sangue, vida e furor, Hamsun nos deixou uma obra paradoxalmente plena de amarguras, sonhos e descrenças, mas também de alegrias, otimismo e esperanças.
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